D. Demétrio Valentini
Na
medida em que se intensificam as celebrações dos 50 anos do Concílio
Vaticano II, que terão seu momento culminante no próximo mês de outubro,
vai emergindo com destaque a figura do Papa João XXIII. Ele foi, sem
dúvida, o grande protagonista deste Concílio. Nenhum outro na história
da Igreja esteve tão ligado a um papa, como o Vaticano II esteve ligado a
João XXIII.
Ao
se recordar os episódios, que compuseram o contexto desencadeador do
Concílio, costuma-se ressaltar o ingrediente da surpresa, envolvendo
especialmente a figura de João XXIII.
Já
foi uma grande surpresa sua eleição, no conclave que se seguiu à morte
de Pio XII, em outubro de 1958.
Ninguém esperava que o pacato Patriarca
de Veneza, Ângelo Giuseppe Roncalli, fosse eleito papa.
Assimilada
esta primeira surpresa, não demoraram outras, encadeadas, que aos
poucos foram dando a certeza que o velho cardeal, feito papa, iria
ultrapassar, de longe, as mais otimistas expectativas que o seu
pontificado poderia comportar.
Ele
marcou o dia 04 de novembro para o início oficial do seu pontificado.
Conhecedor da história da Igreja, quis homenagear a memória de São
Carlos Borromeu, exímio bispo que tinha aplicado com firmeza o Concílio
de Trento.
Não
demorou para o povo romano perceber no novo Papa a simplicidade aliada a
uma grande bondade, que cativava a simpatia de todos. Tanto que logo
foi chamado de “Papa da bondade”.
Esta
imagem de bondade ficou escancarada com duas iniciativas surpreendentes
de João XXIII. No Natal, sem avisar o cerimonial, foi a um hospital
visitar as crianças enfermas. No dia seguinte, foi visitar os presos no
cárcere de Roma.
Estava
armado o cenário, para o povo aceitar com entusiasmo a idéia de um
concílio ecumênico, lançado pelo Papa da bondade, no dia 25 de janeiro
de 1959.
Mas,
analisando melhor a história, estas surpresas todas têm a sua
explicação. Conhecendo alguns detalhes de sua vida, desde os tempos em
que o jovem Padre Ângelo Roncalli era secretário do Bispo de Bérgamo,
podemos agora nos dar conta que ele foi juntando experiências e
assimilando lições muito importantes, que o habilitaram a desempenhar
com competência as incumbências que a Igreja foi lhe confiando, até a
maior de todas, o ofício de ser papa.
Ao longo de sua vida, ele foi aprendiz de papa!
É
muito interessante constatar que a primeira incumbência importante,
confiada ao Padre Roncalli, foi organizar a atividade missionária da
Diocese de Bérgamo. Desincumbiu-se tão bem desta tarefa, que em seguida
foi chamado a Roma, para reorganizar, em nível mundial, as “pontifícias
obras missionárias”. E a partir daí, ele mesmo se colocou à disposição
da Igreja, para as missões que poderiam lhe ser confiadas.
Assim é que
ele foi núncio na Bulgária, na Turquia, depois na França, até ser
nomeado Patriarca de Veneza, de onde foi eleito papa.
Quem
não o conhecia, ficou surpreso com sua eleição. Na verdade, ele era
símbolo de uma das maiores manifestações de vitalidade da Igreja
Católica antes do Concílio, o despertar missionário, que se traduziu em
numerosas congregações, surgidas na Europa ao longo do Século XIX e
inícios do século XX.
Não
há nenhum exagero em afirmar que o Papa João XXIII foi fruto do
despertar missionário da Igreja na Europa, que proporcionou um grande
impulso de renovação, assumido depois pelo Concílio de maneira mais
ampla e articulada.
Foi a missão que despertou a Igreja para a realização do Concílio.
Será a abertura missionária que levará a Igreja a aplicar agora as recomendações do Concílio.
RETIRADO DE: http://www.diocesedejales.org.br/portal/content.php?catid=25¬id=2056
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