terça-feira, 18 de novembro de 2014

ARTIGOS DO BISPO DIOCESANO DE JALES 



UM COMÍCIO EM LONDRES!

Quando em abril de 1999 terminei, finalmente, meu segundo mandato na CNBB, ainda tinha pela frente alguns compromissos marcados, que me implicavam uma longa viagem à Europa: participar da assembleia internacional da Cáritas em Roma, e ir para a Suíça participar do encontro das Nações Unidas sobre migrações. A estes dois compromissos se emendaram outros: ir para Londres e para a Alemanha, participar de encontros sobre Dívida Externa, assunto que tínhamos levantado com força na Terceira Semana Social Brasileira, e por isto queriam contar com minha presença.
Iniciei então a viagem, indo direto para Londres. Nunca tinha ido à Inglaterra. Pude conhecer, então, a capital do antigo império britânico: bem organizada, com amplos espaços arborizados, sobretudo ao longo do Rio Tâmisa, onde aproveitaram as terras que pertenciam aos nobres, e as transformaram em praças públicas. Uma boa destinação da herança dos nobres!
Pois bem, a manifestação sobre a Dívida Externa estava marcada para o domingo dia 13 de junho. E deu sorte, pois foi um dia bonito, o primeiro dia de sol na lenta primavera inglesa. E isto ajudou para o povo atender ao apelo das organizações. E deu uma multidão calculada em 50 mil pessoas, que saíram às ruas. E de repente, me vi participando de um comício em plena Londres, discursando na famosa “Trafalgar Square”, a Praça onde está a estátua de Nelson, aquele que venceu Napoleão.  Do pedestal da estátua improvisamos o palanque para nosso comício. E foi muito aplaudido, mesmo se os ingleses continuam com culpa no cartório nesta história de dívida externa. Mas afinal, é preciso sacudir as velhas heranças!
Foi o que fizemos duas semanas mais tarde, em Colônia, na Alemanha. Enquanto os Sete grandes se reuniam, para fazerem seus planos, nós, os pobres do terceiro mundo, nos reunimos também, e embalados na ideia do Jubileu, do “Perdão das Dívidas”. Junto com a multidão, lá também, cercamos a cidade num grande abraço, para dizer que os povos do mundo querem outra ordem, com mais justiça e mais vida, e não a globalização que só favorece aos ricos. Em todo o caso, conseguimos que eles ao menos prometessem abater a dívida de países pobres.
Enquanto isto, já tinha ido a Roma, participar da assembleia da Cáritas. E de Colônia, fui a Genebra, na Suíça, onde ainda existem alguns escritórios das Nações Unidas, herança ainda do tempo da “Liga das Nações”, organizada depois da primeira guerra mundial.
Genebra é o símbolo da função de mediação que a Suíça exercia tempos atrás, e que agora está perdendo cada vez mais. Uma cidade limpa, rica, bonita. Mas, o que quase não se vê por lá são crianças. E discutindo sobre migrações, a própria Suíça é dos países que mais fecha as fronteiras para não receber migrantes, para não correr o risco de repartir sua riqueza. Só que alguns se perguntam com quem vai ficar esta riqueza daqui a algumas décadas, se não houver mais suíços para herdá-la!
De Genebra peguei o trem, e fui para o norte da Itália, passar ao menos dois dias na casa dos parentes, no lugar onde nasceu o avô Felice Valentini. E de lá voei de volta para o Brasil, para encontrar, como sempre, a pilha de compromissos a me esperar.
Próximo seguimento: Os ventos que sopram do Chile


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